quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Olimpíadas


OLIMPÍADAS
                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*   
            Os atuais Jogos Olímpicos de Londres são uma ocasião para nossa reflexão sobre os valores cristãos de disciplina, fraternidade, paz e reconciliação do mundo, através dos esportes.
            São Paulo Apóstolo escrevendo aos Coríntios, familiarizados com os jogos olímpicos, partilhou a admiração desses povos helenos pelas proezas dos atletas nos estádios, tirando do seu exemplo lições para a nossa vida espiritual (cf. 1 Cor 9, 24-25).
A religião não é alheia ao esporte e a Igreja sempre apoiou o desporto sadio. A finalidade do verdadeiro esporte é tornar o corpo são e dócil para que paralelamente a alma possa se robustecer e enobrecer. Na alta Idade Média, a verdadeira e não a falsa que muitas vezes historiadores superficiais tentam nos impingir, houve uma florescência ideal do verdadeiro desporto cristão. O Barão Pedro de Coubertin, renovador dos Jogos Olímpicos da atualidade, cuja iniciativa foi encorajada pelo Papa São Pio X, assim escreve: “A Idade Média conheceu um espírito desportivo de intensidade e vigor provavelmente superiores aos que conheceu a própria antiguidade grega”. Ele atribui isso à influência primordial da religião que criou uma atmosfera das mais favoráveis à eclosão e desenvolvimento do espírito cavalheiresco que consiste na “lealdade praticada sem hesitação” (Pierre de Coubertin, La Pédagogie Sportive). O cristianismo tem, pois, grande influência no jogo limpo, no “fair-play”.
Em 22 de julho último, após o “Ângelus”, o Papa Bento XVI, falou sobre os Jogos Olímpicos de Londres: “As Olimpíadas são o maior acontecimento esportivo mundial, nas quais participam atletas de muitas nações, revestindo-se assim de um alto valor simbólico. É por isso que a Igreja católica as olha com uma simpatia e atenção particulares”. Ele convidou os católicos a rezar para que “segundo a vontade de Deus, os Jogos de Londres sejam uma verdadeira experiência de fraternidade entre os povos da Terra”. “Eu dirijo minhas saudações aos organizadores, aos atletas e aos expectadores, e eu rezo para que, no espírito da trégua olímpica, a boa vontade gerada por este acontecimento esportivo internacional traga frutos, promovendo a paz e a reconciliação no mundo”.
            Por ocasião do campeonato europeu de futebol 2012, Bento XVI, em sua mensagem, citou o Beato João Paulo II: “As potencialidades do fenómeno desportivo tornam-no instrumento significativo para o desenvolvimento global da pessoa e fator muito útil para a construção de uma sociedade mais humana. O sentido de fraternidade, a magnanimidade, a honestidade e o respeito pelo corpo — sem dúvida virtudes indispensáveis para todos os bons atletas — contribuem para a edificação de uma sociedade civil na qual o ‘agonismo’ substitua o antagonismo, o encontro prevaleça sobre a competição e o confronto leal sobre a contraposição vingativa. Entendido desta maneira, o desporto não é um fim, mas um meio; pode tornar-se veículo de civilização e distração genuína, estimulando a pessoa a pôr em campo o melhor de si e a evitar o que pode ser perigoso ou de grave prejuízo para si mesmo e para os outros”.

*Bispo da Administração Apostólica       Pessoal São João Maria Vianney 

O Cura d'Ars


O CURA D’ARS
                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*    

O mês de agosto é o mês dos sacerdotes e das vocações, porque nele se celebra o patrono de todos os padres, São João Maria Vianney, o Cura ou Pároco da cidadezinha francesa de Ars, “modelo sem par, para todos os países, do desempenho do ministério e da santidade do ministro”, no dizer do Beato João Paulo II, paradigma para a nova evangelização. 
Nascido de uma família de camponeses católicos e muito caridosos, João Maria tinha sete anos quando o Terror da Revolução Francesa reinava em Paris e os padres eram exilados ou mortos. Recebeu a primeira comunhão aos treze anos, durante o segundo Terror, quando a igreja de sua cidade foi fechada e as tropas revolucionárias atravessavam a paróquia. O governo revolucionário estabeleceu a constituição civil do clero e só os padres que faziam esse juramento cismático eram conservados nos cargos. Os outros padres, fiéis à Igreja e que não aceitavam aquele cisma, eram perseguidos, mas atendiam secretamente os fiéis nos paióis das fazendas. Foi a visão desses heróis da fé que fez surgir no jovem Vianney a sua vocação sacerdotal. Candidato, pois, ao heroísmo e à cruz no ministério.
Enfrentou dificuldades no Seminário, donde chegou a ser despedido por incapacidade nos estudos, teve problemas com o serviço militar, conseguiu, porém, aos vinte e nove anos, ser ordenado sacerdote, mas sem permissão para ouvir confissões. Após três anos, foi enviado a uma pequeníssima paróquia, Ars, onde permaneceu durante 42 anos, até o fim da sua vida.
“Há pouco amor de Deus nessa paróquia”, disse-lhe o Vigário Geral ao nomeá-lo, “Vossa Reverendíssima procurará colocá-lo lá”. De fato, Ars, nesse período pós Revolução Francesa, estava esquecida de Deus: pouca frequência às Missas, trabalho contínuo nos domingos, bailes, blasfêmias, etc. O Pe. Vianney começou com penitências e orações próprias. Pregação e catequese contínuas, visitas às famílias e caridade para com os pobres. A Igreja foi se enchendo. Ouvia confissões desde a madrugada até a noite. Peregrinos de toda a França acorriam a Ars, chegando a cem mil por ano. Suas pregações eram assistidas por bispos e cardeais. Seu catecismo era ouvido por grandes pregadores que ali vinham aprender com tanta sabedoria. Morreu aos 74 anos, esgotado pelas penitências e trabalhos apostólicos no ministério sacerdotal. Dizia esse herói da Fé: “É belo morrer depois de ter vivido na cruz”.
Por que razão a Igreja escolheu este santo tão simples para patrono dos padres? Porque sua vida demonstra a nulidade humana e a grandeza do poder de Deus. Para que aprendamos que não são nossos dotes e qualidades humanas que salvam as almas: Deus é que é o protagonista de toda ação pastoral. Por isso também o escolhemos para patrono de nossa União Sacerdotal, transformada pela Santa Sé em Administração Apostólica.
Que todos os fiéis, os grandes interessados, rezem pelos nossos sacerdotes e seminaristas, para que eles imitem a humildade, pobreza, retidão, zelo e fidelidade desse grande herói do ministério sacerdotal, que tanto honrou o sacerdócio paroquial e a Igreja de Cristo.

*Bispo da Administração Apostólica       Pessoal São João Maria Vianney 

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Um Santo Cientista II

UM SANTO CIENTISTA II

Dom Fernando Arêas Rifan*

Já nos referimos em artigo passado ao Dr. Jérôme Lejeune, médico e cientista francês, que, por causa das suas descobertas, atingiu notoriedade internacional, aclamado em todos os centros de pesquisas do mundo e que está em processo de beatificação. Acontece que, paralelamente às suas pesquisas, começavam fortes campanhas pro-abortistas na Europa e nos Estados Unidos. Conta Clara, a filha de Lejeune, em seu livro “Life is a blessing: a biography of Jérôme Lejeune”, que o cientista declarou-se abertamente contra e, a partir disso, fecharam-se “repentinamente” todas as portas da mídia, ao ponto de mais ninguém chamá-lo para entrevistas sobre seus “notáveis” descobrimentos.
Podemos dizer dele: o homem que perdeu o Premio Nobel para ganhar o Céu! Gostaria de hoje transmitir algumas de suas sábias e lapidares palavras, que contêm argumentos valiosos de um cientista a favor da vida:
 “Penso pessoalmente que diante de um feto que corre um risco, não há outra solução senão deixá-lo correr esse risco. Porque, se se mata, transforma-se o risco de 50% em 100% e não se poderá salvar em caso nenhum. Um feto é um paciente e a medicina é feita para curar... Toda a discussão técnica, moral ou jurídica é supérflua: é preciso simplesmente escolher entre a medicina que cura e a medicina que mata”.
“Se um óvulo fecundado não é por si só um ser humano ele não poderia tornar-se um, pois nada é acrescentado a ele.”
         “Logo que os 23 cromossomos paternos trazidos pelo espermatozoide e os 23 cromossomos maternos trazidos pelo óvulo se unem, toda informação necessária e suficiente para a constituição genética do novo ser humano se encontra reunida. O fato de que a criança se desenvolve em seguida durante 9 meses no seio de sua mãe, em nada modifica sua condição humana. Assim que é concebido, um homem é um homem. Não quero repetir o óbvio, mas na verdade, a vida começa na fecundação. Quando os 23 cromossomos masculinos se encontram com os 23 cromossomos femininos, todos os dados genéticos que definem o novo ser humanos já estão presentes. A fecundação é o marco da vida”.
 “... Se logo no início, justamente depois da concepção, dias antes da implantação, retirássemos uma só célula do pequeno ser individual, ainda com aspecto de amora poderíamos cultivá-la e examinar os seus cromossomos. E se um estudante, olhando-a ao microscópio não pudesse reconhecer o número, a forma e o padrão das bandas desses cromossomos, e não pudesse dizer, sem vacilações, se procede de um chimpanzé ou de um ser humano, seria reprovado. Aceitar o fato de que, depois da fertilização, um novo ser humano começou a existir não é uma questão de gosto ou de opinião. A natureza humana do ser humano, desde a sua concepção até sua velhice não é uma disputa metafísica. É uma simples evidência experimental. No princípio do ser há uma mensagem, essa mensagem contém a vida e essa mensagem é uma vida humana”.
“A sociedade não tem que lutar contra doença, suprimindo o doente. Um único critério mede a qualidade de uma civilização: o respeito que ela prodigaliza aos mais fracos de seus membros. Uma sociedade que se esquece disso está ameaçada de destruição. A civilização está, muito exatamente, no fornecer aos homens o que a natureza não lhes deu. Quando uma sociedade não admite os deserdados, ela dá as costas à civilização”.
O Prof. Dr. Lejeune já esteve aqui no Brasil e proferiu em 27/8/1991, no Auditório Petrônio Portella do Senado Federal, uma brilhante conferência sobre Genética, mostrando que desde a fecundação do óvulo pelo espermatozoide existe um ser humano, que merece o respeito devido a qualquer pessoa; o óvulo fecundado se torna “a célula mais especializada sobre a Terra; nenhuma outra célula tem a mesma riqueza de instruções para desenvolver a vida”. O conferencista terminou, proferindo esse magnífico epilogo:
“Desejo resumir meu pensamento relativo à contracepção, ao aborto, a tudo o que disse até aqui. Desejo lembrar-lhes que o homem é o único ser neste planeta que sabe existir uma relação natural entre o ato sexual e a procriação. O mais astuto chimpanzé nunca saberá que existe uma relação entre o fato de cruzar com sua mona e a aparição, nove meses depois, de um macaquinho parecido com ele. Ele não é capaz de compreender essa relação. O ser humano sempre entendeu isso. Tanto isso é verdade que os antigos, para traduzir a paixão amorosa e o prazer do sexo, representavam-nos por um menino — o Cupido. E todos entendiam o seu significado. Disto se pode concluir que o comportamento sexual do homem é certamente o que mais o distingue dos demais seres vivos, porque só ele sabe que as crianças são o fruto do amor. Portanto, no comportamento sexual separar o prazer e o amor da reprodução e, por consequência, do filho, é um erro de método. Isto pode ser assim resumido: a pílula significa fazer amor sem fazer filho, a fecundação extracorpórea significa fazer filho sem fazer amor, o aborto significa desfazer o filho, a pornografia e a promiscuidade significam desfazer o amor. Nada disso é compatível com a dignidade humana”.

                         *    Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

São Pedro - Bento XVI

SÃO PEDRO – BENTO XVI
                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*    
Dia 29 próximo celebraremos a festa de São Pedro, apóstolo escolhido por Jesus para ser seu vigário aqui na terra, constituído por ele seu representante (“vigário”, aquele que faz as vezes de outro), chefe da sua Igreja: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas (os poderes) do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus (a Igreja): tudo o que ligares na terra será ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu” (Mt 16, 18-19).
            São Pedro, fraco por ele mesmo, mas forte pela força que lhe deu Jesus, representa bem a Igreja de Cristo. No Credo do Povo de Deus proclamamos: “Cremos na Igreja una, santa, católica e apostólica, edificada por Jesus Cristo sobre a pedra que é Pedro... Cremos que a Igreja, fundada por Cristo e pela qual Ele orou, é indefectivelmente una, na fé, no culto e no vínculo da comunhão hierárquica. Ela é santa, apesar de incluir pecadores no seu seio; pois em si mesma não goza de outra vida senão a vida da graça. Se realmente seus membros se alimentam dessa vida, se santificam; se dela se afastam, contraem pecados e impurezas espirituais, que impedem o brilho e a difusão de sua santidade. É por isso que ela sofre e faz penitência por esses pecados, tendo o poder de livrar deles a seus filhos, pelo Sangue de Cristo e pelo dom do Espírito Santo.
            Nesse dia também celebramos, com toda a Igreja, os 61 anos da ordenação sacerdotal do nosso caríssimo Papa Bento XVI, 265º sucessor de São Pedro. A ele os nossos parabéns e votos de muita saúde, força e graças para o governo da Igreja que lhe foi confiado.
            Como ele mesmo diz, sua ordenação sacerdotal foi o “momento mais importante” da sua vida. Ele recebeu o sacramento junto ao seu irmão mais velho, Georg, das mãos do cardeal Michael von Faulhaber, conhecido como grande opositor do nazismo.
            Ele mesmo escreve nas suas memórias: “No dia da primeira Missa, fomos acolhidos em todos os lugares – também entre pessoas completamente desconhecidas –, com uma cordialidade que até aquele momento eu não poderia ter imaginado. Experimentei assim, muito diretamente, quão grandes esperanças os homens colocavam em suas relações com o sacerdote, quanto esperavam sua bênção, que vem da força do sacramento. Não se tratava da minha pessoa nem da do meu irmão: o que poderiam significar, por si mesmos, dois irmãos como nós, para tanta gente que encontrávamos? Viam em nós pessoas às quais Cristo havia confiado uma tarefa para levar sua presença entre os homens; assim, justamente porque não éramos nós que estávamos no centro, nasciam tão rapidamente relações de amizade.”
Mas o Papa não quer que este seja um momento de exaltação da sua pessoa; ele espera que sirva para promover na Igreja o agradecimento a Deus pelo dom do sacerdócio e para pedir-lhe que suscite novas vocações. Esta mesma (re)descoberta do sacerdócio, no âmbito universal, é o objetivo que Bento XVI apresenta ao celebrar seu aniversário de ordenação.

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O Padroeiro dos políticos


O PADROEIRO DOS POLÍTICOS

                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*
                                                                    
Dia 22 próximo, a Igreja celebra a festa do mártir Santo Tomás More. Lorde Chanceler do Reino da Inglaterra, por não ter aceitado o divórcio e o cisma do rei Henrique VIII, foi condenado à morte por traição e decapitado em 1535. Preferiu perder o cargo e a vida a trair sua consciência. A Igreja o proclamou padroeiro dos Governantes e dos Políticos, exatamente porque soube ser coerente com os princípios morais e cristãos até ao martírio. O belo filme da sua vida, em português, que recomendo, intitula-se “O homem que não vendeu sua alma!”. 
A coerência é uma virtude cristã que deve penetrar todas as nossas ações e atitudes. Pensar, viver e agir conforme a nossa fé e nossas convicções cristãs. Caso contrário, seremos hipócritas e daremos um grande contra-testemunho do nosso cristianismo. A consciência é única e unitária, e não dúplice. Não se age como cristão na Igreja e como pagão fora dela.
“O Concílio exorta os cristãos, cidadãos de ambas as cidades [terrena e celeste], a que procurem cumprir fielmente os seus deveres terrenos, guiados pelo espírito do Evangelho. Afastam-se da verdade os que, sabendo que não temos aqui na terra uma cidade permanente, mas que vamos em demanda da futura, pensam que podem por isso descuidar os seus deveres terrenos, sem atenderem a que a própria fé ainda os obriga mais a cumpri-los, segundo a vocação própria de cada um. Mas não menos erram os que, pelo contrário, opinam poder entregar-se às ocupações terrenas, como se estas fossem inteiramente alheias à vida religiosa, a qual pensam consistir apenas no cumprimento dos atos de culto e de certos deveres morais. Este divórcio entre a fé que professam e o comportamento quotidiano de muitos deve ser contado entre os mais graves erros do nosso tempo” (Gaudium et Spes, 43).
O ensinamento social da Igreja não é uma intromissão no governo do País, mas traz um dever moral de coerência aos fiéis leigos, no interior da sua consciência. “Não pode haver, na sua vida, dois caminhos paralelos: de um lado, a chamada vida ‘espiritual’, com os seus valores e exigências, e, do outro, a chamada vida ‘secular’, ou seja, a vida de família, de trabalho, das relações sociais, do empenho político e da cultura” (Beato João Paulo II, Christif. Laici, 59). 
 “Reconhecendo muito embora a autonomia da realidade política, deverão se esforçar os cristãos solicitados a entrarem na ação política por encontrar uma coerência entre as suas opções e o Evangelho” (Paulo VI, Octogésima Adveniens, 46). “Também para o cristão é válido que, se ele quiser viver a sua fé numa ação política, concebida como um serviço, não pode, sem se contradizer a si mesmo, aderir a sistemas ideológicos ou políticos que se oponham radicalmente, ou então nos pontos essenciais, à sua mesma fé e à sua concepção do homem...” (idem, 26).
No atual clima de corrupção e venalidade que invadiu o sistema político, eleitoral e governamental, possa o exemplo de Santo Tomás More ensinar aos governantes e políticos, atuais e futuros, que o homem não pode se separar de Deus, nem a política da moral, e que a consciência não se vende por nenhum preço, mesmo que isto nos custe caro e até a própria vida.

*Bispo da Administração Apostólica           Pessoal São João Maria Vianney

terça-feira, 12 de junho de 2012

Santos Juninos

SANTOS JUNINOS
Dom Fernando Arêas Rifan*
No mês de junho, temos as tradicionais festas juninas. Devemos nos lembrar de que, ao menos originalmente, elas existem para comemorar três santos de grande importância, exemplo para nós e cuja memória se celebra neste mês: Santo Antônio, dia 13, São João Batista, dia 24, e São Pedro, dia 29. Infelizmente, como muitas outras festas religiosas, as festas juninas são também um pouco desvirtuadas, ficando-se nos acessórios e se esquecendo do principal.
Celebramos então hoje um grande herói da fé, Santo Antônio de Pádua, também chamado, sobretudo pelos portugueses, Santo Antônio de Lisboa. Ele nasceu em Lisboa, chamava-se Fernando, foi cônego da Ordem da Cruz e entrou, pelo desejo do martírio, na Ordem Franciscana, tomando o nome de Antônio. Foi grande pregador, recebendo as alcunhas de “Doutor Evangélico” e “martelo dos hereges”, terminando a sua vida em Pádua, na Itália. É o santo dos milagres, tal a quantidade de fatos extraordinários e sobrenaturais que acompanhavam a sua pregação. Sua língua está miraculosamente conservada em Pádua, há mais de 700 anos.
São Pedrofoi apóstolo de Jesus, por ele escolhido para chefe do colégio apostólico e da sociedade hierárquica visível que ele fundaria, simbolizado isso pela entrega das chaves do Reino dos Céus, ou seja, da sua Igreja. Pescador do mar da Galiléia, foi por Jesus transformado em pescador de homens. Após ter chorado o seu pecado de negação do seu divino Mestre, foi por ele consagrado seu vigário aqui na terra. São Pedro fundou a Igreja de Roma, da qual foi o primeiro bispo. Seu sucessor é o Papa, bispo de Roma, vigário de Cristo.
São João Batistafoi o precursor de Jesus, aquele que o apresentou ao povo de Israel. Filho de Zacarias e Santa Isabel, foi santificado ainda no seio materno quando da visita de Nossa Senhora, já grávida do Menino Jesus. Por isso a Igreja festeja no dia 24, o seu nascimento, ao contrário de todos os outros santos, dos quais ela só comemora a morte, ou seja, seu nascimento para o Céu. Desde criança, retirou-se para o deserto para fazer penitência e se preparar para sua futura missão. Ministrava ao povo o batismo de penitência, ao qual Jesus também acorreu, por humildade. São João Batista era o homem da verdade, sem acepção de pessoas. Por isso admoestava o Rei Herodes contra o seu pecado de infidelidade conjugal e incesto, o que atraiu a ira da amante do rei, Herodíades, que instigou o rei a metê-lo no cárcere. No dia do aniversário de Herodes, a filha de Herodíades, Salomé, dançou na frente dos convivas, o que levou o rei, meio embriagado, a prometer-lhe como prêmio qualquer coisa que pedisse. A filha perguntou a mãe, que não perdeu a oportunidade de vingar-se daquele que invectivava seu pecado. Fez a filha pedir ao rei a cabeça de João Batista. João foi decapitado na prisão, merecendo o elogio de Jesus, por ser um homem firme e não uma cana agitada pelo vento: “Entre os nascidos de mulher não apareceu ninguém igual a João Batista”.
João Batista foi fiel imitador de Jesus Cristo, caminho, verdade e vida, que, como disse o poeta João de Deus, “morreu para mostrar que a gente pela verdade se deve deixar matar”.
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Festa de Corpus Christi

FÉ – AMOR - REPARAÇÃO
Dom Fernando Arêas Rifan*
Amanhã celebraremos com toda a Igreja a solene festa do Corpo de Deus, ou Corpus Christi, solenidade em honra do Corpo de Cristo, presente na Santíssima Eucaristia.
Por que tal festa? “Augustíssimo sacramento é a Santíssima Eucaristia, na qual se contém, se oferece e se recebe o próprio Cristo Senhor e pela qual continuamente vive e cresce a Igreja. O Sacrifício Eucarístico, memorial da morte e ressurreição do Senhor, em que se perpetua pelos séculos o Sacrifício da cruz, é o ápice e a fonte de todo o culto e da vida cristã, por ele é significada e se realiza a unidade do povo de Deus, e se completa a construção do Corpo de Cristo. Os outros sacramentos e todas as obras de apostolado da Igreja se relacionam intimamente com a santíssima Eucaristia e a ela se ordenam” (Direito Canônico cân. 897).
O mesmo nos ensina o Catecismo da Igreja Católica: “A Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja. A Eucaristia é o memorial da páscoa de Cristo: isto é, da obra da salvação realizada pela Vida, Morte e Ressurreição de Cristo, obra esta tornada presente pela ação litúrgica. Enquanto sacrifício, a Eucaristia é também oferecida em reparação dos pecados dos vivos e dos defuntos, e para obter de Deus benefícios espirituais ou temporais” (nn.1407, 1409 e 1414).
Esse tesouro de valor incalculável, a Santíssima Eucaristia, centro e o ponto culminante da vida da Igreja Católica, foi instituído por Jesus na Última Ceia, na Quinta-feira Santa. Mas, então, a Igreja estava ocupada com as dores da Paixão de Cristo e não podia dar largas à sua alegria por tão augusto testamento. Por isso, na primeira quinta-feira livre depois do tempo pascal, ou seja, amanhã, a Igreja festeja com toda a solenidade, com Missa e procissão solenes, Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, presente sob as espécies de pão e vinho, na Hóstia Consagrada. Esta festa tem a finalidade de expressarmos publicamente a nossa e adoração para com Jesus Eucarístico e, ao mesmo tempo, nossa reparação pelos ultrajes, sacrilégios, profanações, e, até também, pelos abusos litúrgicos que infelizmente acontecem com relação à Santíssima Eucaristia.
O Papa João Paulo II, na sua Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, já nos advertia contra os “abusos que contribuem para obscurecer a reta fé e a doutrina católica acerca deste admirável sacramento” e lastimava que se tivesse reduzido a compreensão do mistério eucarístico, despojando-o do seu aspecto de sacrifício para ressaltar só o aspecto de encontro fraterno ao redor da mesa, concluindo: “A Eucaristia é um dom demasiado grande para suportar ambigüidades e reduções”.
Nessa festa de Corpus Christi, demonstremos, pois, a importância da Eucaristia na Igreja e a nossa fé, adoração, respeito, reparação e amor por Jesus Eucarístico.
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney