UM CIENTISTA SANTO
Dom Fernando Arêas Rifan*
Em 2001, em Roma, tive
a honra de jantar
com uma distinta senhora e seu genro, cuja identidade me
surpreendeu.
Tratava-se da viúva do grande médico cientista, Dr. Jerôme
Lejeune, falecido em
1994, e seu genro, o diretor da Fundação Jerôme Lejeune,
inaugurada após sua
morte, que dá continuidade à sua ação em favor dos deficientes
mentais.
Jérôme Jean Louis
Marie Lejeune
(1926-1994) foi um médico francês, pediatra, professor de
genética e cientista,
a quem se deve a descoberta da anomalia cromossômica que dá
origem à trissomia
21, identificando assim a origem genética da chamada Síndrome
de Down.
O professor
Lejeune, considerado o
pai da genética moderna, obteve, entre várias honrarias e
títulos, os de doutor Honoris
Causa das universidades de Düsseldorf
(Alemanha), Pamplona (Espanha), Buenos Aires (Argentina) e da
Pontifícia
Universidade do Chile. Ele era membro da Academia de Medicina
da França, da
Academia Real da Suécia, da Academia Pontifícia do Vaticano,
da American Academy of
Arts and Sciences e
da Academia de Lincei (Roma) entre outras. Participou e
presidiu várias
comissões internacionais da ONU e OMS. Obteve numerosos
prêmios pelos seus
trabalhos sobre as patologias cromossômicas, entre os quais o
Prêmio Kennedy em
1962, que recebeu diretamente das mãos do presidente John F.
Kennedy. Em 1964,
ele foi o primeiro professor de genética
na Faculdade de Medicina de Paris.
Em 1974,
o Papa Paulo VI o
convida a fazer parte da Pontifícia Academia das Ciências
e, mais
tarde, do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da
Saúde. Em 1981,
Jérôme foi eleito à
Academia de Ciências Morais e Políticas da França e, em 1994,
tornou-se o primeiro
presidente da Pontifícia Academia para a Vida,
criada naquele
mesmo ano pelo Beato João Paulo II, de quem era amigo
particular.
Mas, o
mais surpreendente de
tudo isso: ele teve uma vida santa. João Paulo II, em 1997, na
Jornada Mundial
da Juventude em Paris, fez questão de ir rezar no seu túmulo.
Seu processo de
beatificação e canonização foi aberto em 28 de junho de 2007.
Com Missa pela
vida celebrada na Catedral de
Notre-Dame de Paris, em abril passado, encerrou-se o processo
diocesano da
causa de beatificação e canonização do servo de Deus Jérôme
Lejeune. Conhecido
por tratar e acompanhar pacientes com deficiência intelectual
e, sobretudo, pelo
compromisso em favor da vida humana, em 1971 realizou um
discurso contra o
aborto no National
Institute for Health e
depois disto mandou uma mensagem à sua esposa dizendo: “hoje
perdi meu Prêmio
Nobel”. Nesse discurso, Lejeune foi forte: “Vocês estão
transformando seu
instituto de saúde em um instituto de morte”.
A Igreja tem santos de
todos os tipos,
temperamentos, profissões, classes sociais, idades, países e
línguas. Assim ela
nos ensina que a santidade não está excluída de ninguém. Pelo
contrário, está
ao alcance de todos. “Todos na Igreja, quer pertençam à
Hierarquia quer por ela
sejam pastoreados, são chamados à santidade” (Lumen Gentium, 39).
*Bispo
da Administração Apostólica Pessoal
São João Maria Vianney
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